Em uma manhã chuvosa de Março, uma sala cheia de enfermeiras se sentou em um evento paralelo da Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher (UN CSW), pronta para ouvir como as palestrantes estavam levando a enfermagem global para o futuro.

A sessão da manhã, “Enfermeiras do Oriente Médio, América do Sul e Central Promovendo Cuidado, Colaboração e Cooperação por meio de Experiências Educacionais Compartilhadas”, incluiu duas Enfermeiras Sênior, pioneiras em trauma, que trabalharam lado a lado por décadas na Organização Médica Hadassah, uma judia , uma árabe: Julie Benbenishty, RN, MSN, Ph.D., e Naela Hayek, RN, MP. Em 2011, as duas fundaram a Nurses in the Middle East, foco da sessão da CSW da ONU. Sua missão? “Enfermeiros no Oriente Médio é uma organização conjunta israelense-palestina para promover a saúde regional e conectar os enfermeiros uns aos outros, independentemente da identidade política, étnica ou religiosa.”

“Para mim, eles representam o melhor das Nações Unidas, mesmo não sendo afiliados. Todos os dias eles realizam [sua] visão”, disse a Dra. Holly Shaw, representante da ONU do Conselho Internacional de Enfermeiras, que convidou Benbenishty e Hayek para falar no evento da CSW da ONU. Elas são “exemplos informativos e instrutivos dos melhores valores de colaboração em compromisso com a humanidade que posso imaginar”.

Benbenishty, recentemente nomeada Embaixadora da World Federation of Critical Care Nurses, nasceu nos Estados Unidos, fazendo aliá aos 16 anos. Em Jerusalém, ela estudou Medicina na Escola de Enfermagem Henrietta Szold Hadassah-Universidade Hebraica, onde agora ensina. Ela também atua como Vice-Presidente da Federação Europeia de Enfermeiros de Cuidados Intensivos. Depois de servir como enfermeira no exército israelense, ela começou a trabalhar no Hospital Hadassah, onde está na UTI desde 1978.

“Sou do norte da Galiléia, sou árabe e tenho orgulho de estar aqui – e de apresentar a vocês”, disse Naela Hayek, Enfermeira-Chefe nacional do Ministério de Bem-Estar e Previdência Social, que falou sobre seus 29 anos trabalhando na UTI do Hadassah com Benbenishty.

O relacionamento caloroso entre as duas, construído ao longo de décadas tratando pacientes com trauma e com as consequências do terrorismo juntos, foi o que as levou a estabelecer uma organização sem fins lucrativos de enfermeiras no Oriente Médio dedicada à promoção da saúde, educação continuada em enfermagem e conferências regionais para transcender fronteiras polticas e sociais.

A primeira conferência aconteceu na Jordânia com 21 enfermeiros – agora eles têm 140.

Hoje, Benbenishty e Hayek expandiram seus programas de enfermagem clínica especializada, que começaram com um programa piloto para 15 enfermeiras no Hospital Augusta Victoria em Jerusalém Oriental para receber treinamento avançado no Hadassah. Agora elas têm oito hospitais israelenses-palestinos participando, com cerca de 480 enfermeiros. Para elas, isso é mais do que apenas uma maneira de garantir que os pacientes na Cisjordânia e em Gaza tenham igualdade na saúde. “Acreditamos que podemos criar uma coexistência mais calma”, disse Benbenishty.

Além do treinamento clínico, a pesquisa conjunta será uma parte fundamental do seu trabalho, fornecendo “um modelo transfronteiriço para a construção da paz e eliminando as lacunas de habilidades no campo da enfermagem. Isso se baseia em estudos menores que mostram o potencial do treinamento em saúde transfronteiriço para ajudar a construir respeito e compreensão mútuos”.

“Nossos pequenos passos começaram quando tive um caminhoneiro de 45 anos de Hebron, vítima de um grave acidente… Investimos três meses de cuidados diários, os melhores cuidados possíveis. Quando finalmente recebeu alta, ele teve que voltar para a Cisjordânia, onde não havia instalações para a continuidade de seus cuidados”, disse Benbenishty.

“As desigualdades de saúde que ele estava enfrentando – que fariam que ele tivesse um resultado diferente em comparação com meus pacientes israelenses, que tem melhores oportunidades de cuidados de saúde – exigiam uma rede de enfermagem.” E então ela e Hayek começaram a navegar por uma intrincada teia de regras e formalidades oficiais e obstáculos burocráticos, para criar sua organização sem fins lucrativos, com o objetivo de trazer continuidade de atendimento a seus pacientes palestinos no Hadassah, depois que eles deixassem o hospital e voltassem para suas comunidades locais.

“Vivemos em uma sociedade de judeus e árabes com feridas abertas”, disse Benbenishty, literal e figurativamente. “As enfermeiras podem curar pessoas feridas e sangrando?”

Parecia claro, naquela manhã, do outro lado da rua da ONU, que essas duas já estão dando os pequenos passos que podem levar a grandes mudanças.