Pouco antes de a sirene tradicional soar em Israel em homenagem ao Yom HaShoah – Dia da Memória do Holocausto e do Heroísmo, a enfermeira Tamar Madeson pegou seu violão e começou a dedilhar o clássico lamento de Chava Alberstein, “One Human Tissue”.

Um por um, os pacientes e a equipe de uma das unidades de surtos COVID-19 do Hadassah Hospital Ein Kerem se juntaram, cantando a letra tão apropriada para a solenidade do dia e para a atual crise:

“Se um de nós

Se afasta de nós

Algo morre dentro de nós

E algo permanece com ele.”

A música desaparece quando alguns ajudam os outros a se levantarem, todos em silêncio pela sirene.

Refletindo sobre esses momentos pungentes, Madeson compartilha seus pensamentos:

As emoções podem ser impossíveis de transmitir quando apenas os olhos são visíveis. Pela primeira vez, podemos parar um pouco os tratamentos incessantes e introduzir um pouco de espiritualidade. Toda a equipe decide entrar na unidade para juntos ouvirmos a sirene.

Enquanto eu toco o violão, uma vítima de derrame de 93 anos incomunicável e com demência se mexe um pouco em seu assento. Ela levanta a mão, movendo-a para frente e para trás no ritmo da música. Quando termino de tocar, seguro a mão dela. Ela puxa minha mão em direção à boca e beija. As lágrimas brotam.

Me vejo dando apoio a uma vítima de derrame na casa dos 80 anos, fraca demais para ficar sozinha. Ela murmura por todo o toque da sirene: “Não vamos esquecer nem perdoar”. Quando ela afunda de volta em sua poltrona, ela me abraça.

Como posso explicar a ela como sou grata por estarmos juntas nesses momentos? Que este é um dos poucos abraços que recebi no mês passado. Isso me enche de força. Muita força.

Tenho uma tremenda dívida de gratidão às pessoas únicas que conheci nos últimos dias – a enfermeira chefe, por exemplo, que me inspira com sua sensibilidade, profissionalismo, flexibilidade e dinamismo. Ela incutiu essas qualidades em todos nós durante essa guerra biológica, permanecendo o tempo todo otimista, promovendo um espírito de união.

E há as enfermeiros que conheço de vários departamentos do hospital, que se voluntariaram para trabalhar na unidade COVID-19. Eles também forjam uma sensação de união. Isso me lembra uma caminhada que fizemos no exército, carregando nos ombros uma garota desidratada. Quando uma das carregadoras se cansava, outra a substituía. Um dirigindo os outros adiante. Um sentimento de que nenhum indivíduo é deixado para trás. Juntos, fazemos o que é possível para que todos recebam o melhor tratamento.

Eu também estou impressionada com os pacientes. Alguns deles, que ontem estavam exaustos, necessitando de oxigênio, agora estão trazendo bebidas para outros pacientes, recolocando cobertores caídos e passando um tempo no salão com aqueles que parecem sozinhos. Aqui as amizades são criadas em meio a um senso de destino compartilhado. Há compaixão e ternura que movem meu próprio ser.

Sinto essa compaixão na unidade. Sinto isso olhando para a tela na sala de controle. São momentos de beleza e florescimento humano. Vou mantê-los comigo pelo resto dos meus dias.