“Muitos dos funcionários do hospital que estão me tratando costumavam ser assistidos por mim. Agora minha vida está nas mãos deles”, relata a assistente social da Organização Médica Hadassah, Tali Rosen.

Ela fala em um sussurro, e é difícil ouvi-la com o assobio da centrífuga giratória que está separando seu sangue em plasma, glóbulos vermelhos e glóbulos brancos. Os médicos dela precisam das células brancas, os leucócitos, para um procedimento promissor que eles esperam salvará a vida dela.

Como o trabalho de Rosen como assistente social de Hadassah era desafiador, ela deixou de lado o cansaço inicial e os ossos doendo que sentia. Quando as infecções repetidas se tornaram mais do que um incômodo, ela se fez testar. Rosen foi diagnosticada com mieloma múltiplo, câncer dentro da medula óssea esponjosa.
Isso foi há 15 anos, e a doença ainda é incurável. Eventualmente, a equipe de oncologia de Hadassah ficou sem tratamentos para Rosen, agora mãe de cinco filhos.

“A história de Tali me inspirou a fazer algo”, diz a Profª Polina Stepensky, que chefia o Departamento de Transplante de Medula Óssea e Imunologia do Câncer do Hadassah.

Rosen é agora uma de sete pacientes em um teste clínico inicial do primeiro tratamento de imunoterapia CAR T feito em Israel. A terapia, recentemente aprovada pela Food and Drug Administration dos EUA, dirige as próprias células T do paciente, glóbulos brancos do sistema imunológico. As células são geneticamente modificadas para introduzir um elemento “caçador” que persegue as células cancerígenas e as destrói. Chamados receptores de antígeno quimérico (CAR na sua sigla em inglês), esses caçadores se ligam a proteínas específicas e reprogramam as células T para destruir o câncer.

O tratamento é dado junto com a quimioterapia. Uma vez melhoradas, as células CAR T são infundidas de volta ao corpo do paciente para atacar e destruir células cancerígenas resistentes à quimioterapia.

Até agora, esta terapia experimental, empregada particularmente para mieloma múltiplo, estava disponível apenas na China e nos EUA; nos EUA, era restrito aos americanos. O custo nos EUA é proibitivo: US$ 400.000 por tratamento de paciente. A equipe da Profª. Stepensky, a primeira em Israel a desenvolver e fabricar suas próprias células CAR T, conseguiu reduzir drasticamente o preço, tornando o tratamento acessível para os cerca de 100 a 120 israelenses que o podem requerer a qualquer momento.

Inspirada pelo trabalho do diretor do Memorial Sloan Kettering Cancer Center for Cell Engineering (EUA), Michel Sadelain, a Profª. Stepensky convenceu Hadassah de que sua equipe poderia criar um tratamento totalmente israelense, “azul e branco”. Em três anos, sua equipe, em colaboração com o Prof. Cyrille Cohen da Universidade Bar-Ilan, realizou todos os experimentos in vitro e in vivo,construiu laboratórios e instalações de Boas Práticas de Fabricação, e recebeu todas as aprovações necessárias.

“Os resultados laboratoriais são impressionantes”, diz a Profª. Stepensky, que agora espera resultados semelhantes com pacientes como Rosen. Os ensaios clínicos são um processo lento, diz ela, “mas alcançamos progressos significativos em três anos, o que é um tempo recorde”.

Rosen, que passou por uma montanha russa emocional, observa: “Apesar de tudo, dos anos de longos tratamentos e das decepções, continuamos com a vida normalmente.” Quando perguntada que conselho a assistente social Rosen daria à paciente Rosen, ela chora. “Sou boa em dar conselhos aos outros”, é tudo o que ela disse.

A Profª. Stepensky explica que “as pessoas neste ensaio clínico tentaram todo o resto. Elas estão seriamente doentes. Ela antecipa que dará aos seus pacientes o tratamento CAR T algumas vezes e que “seus cânceres se tornarão uma doença crônica para eles”.

Por enquanto, a Profª. Stepensky e seus colegas estão tratando apenas pacientes com mieloma múltiplo, mas ela disse que pode haver muitas outras aplicações para o tratamento de CAR T. “Uma vez que eu assumo alguma coisa”, a Profª. Stepensky enfatiza: “Eu vejo ela para nossos pacientes até o fim. No meu sonho, criaremos uma instalação que desenvolverá terapia celular para qualquer tipo de câncer, para crianças e adultos. Para tudo.”